A TRAGÉDIA DO ÉDEN
(crônica)
Introdução
É quase
inimaginável pensar que nossa mãe Eva, ali no paraíso, lugar secreto, na
mais completa inocência e pureza de alma, destituída das maldades da mente, das
provocações da carne e da concupiscência dos olhos, tenha se deixado seduzir
pelos argumentos do maligno.
Sou daqueles que
entendem que Adão e Eva, o casal primitivo criado por Deus para povoar e
governar a terra, tiveram uma longa e maravilhosa vida no paraíso onde o Senhor
os pusera e os dera como possessão terrestre, antes de cederem à tentação. Gosto de
viajar nesse cenário e, com toda reverência que merece as Sagradas Escrituras,
inerrantes em todas as suas narrativas, de Gênesis a Apocalipse, faço algumas
inserções e inferências entre um versículo e outro, tentando ouvir o que Deus
estava falando, ler o que o Autor da Vida estava escrevendo e ver o que os Seus
olhos santos estavam vendo naqueles momentos humanamente escondidos.
Entretanto,
fiquem à vontade para discordarem. Acreditem se quiserem!
Então, viagem
comigo pela história de papai e de mamãe, ocorrida ainda outro dia, bem
recente.
1.
Nossos pais originais, Adão e Eva resolveram
fazer sua primeira cabana em um lugar muito especial, se é que se pode dizer
que no Jardim do Éden havia um lugar mais especial que outro. Mas, enfim, a
construíram bem do lado oeste do lago das Águias, de frente para o nascente do
sol, cujos raios todas as manhãs coloriam e viajavam por sobre as pequenas
ondas encrespadas das suas águas cristalinas. Deste lago, do lado oriental,
nascia o rio que o Senhor colocou no Éden, conforme Gn2,10, do qual derivavam
quatro braços, a saber, Pisom, Havilá, Gison e Tigre. Logo do outro lado do
lago, que não era muito grande, ficava a montanha do Carvalho, local onde Adão
escolhera para ser seu principal ponto de observação e posto fixo de seu
trabalho, quando trabalhava por ali mais perto da sua cabana. Desta forma, o
trajeto entre o lago das Águias e a montanha do Carvalho, era o caminho da roça
do casal. Coisa de vinte minutos de caminhada, por uma estradinha exuberante, com
muitas árvores de ambos os lados e toda decorada pelas lindas flores que o
Senhor havia plantado por ali. Aproximadamente no meio desse trajeto,
encontrava-se a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, a árvore proibida. Quase
todos os dias o casal passava por ali várias vezes. E ali, sábia e
devidamente plantada pelo Senhor Deus, achava-se exuberante e magnífica, a
árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.
2.
Quantas vezes Eva deve ter passado por aquele
lugar e obviamente por aquela árvore frondosa. Sempre exibindo seus frutos
exuberantes, com aspectos suculentos e saborosos. À primeira vista, olhando
assim de longe, pareciam saborosos.
Durante quantos
anos Eva apenas passava por ali, várias vezes por dia, sem atentar para aquela
linda árvore? Logo no início da sua chegada ao Éden, tinha tantas coisas para
ver, descobrir, conhecer, provar que nem prestou muita atenção que aquela
árvore era tão magnífica, tão atraente! Nem jamais almejou cobiçá-la. Eva
estava ocupada demais como ajudadora de Adão, seu companheiro, e desta forma,
em sua agenda diária havia outras prioridades que iam de encontro ao mandato do
Senhor: cultivem e guardem o jardim.
3.
Entretanto, com o passar do tempo, após já ter
descoberto e experimentado quase de tudo por ali daquilo que era-lhe permitido
pelo Senhor Deus, em um determinado dia que ninguém sabe qual era, pois eles
ainda não contavam o tempo, Eva simplesmente se pega paradona e vidrada
admirando aquela Árvore, do Conhecimento do Bem e do Mal. Quando Eva vem à tona
e cai na real, dá uma esfregada nos olhos, solta um “UFA” e segue adiante até
onde Adão estava fazendo as tarefas previstas para aquele dia; anotando os
nomes, classificando espécies e particularidades de plantas, animais e outras
coisas que ia descobrindo a cada passo, conforme o Senhor lhe ordenara.
4.
Provavelmente durante o restante aquele dia
Eva não tenha conseguido prestar muita atenção naquilo que Adão estava fazendo.
Vislumbrou várias vezes aqueles minutos de contemplação da Árvore do Bem e do
Mal e em sua mente martelava: “o dia em que dela comerem, morrerão”; “não
comam”, “não comam”, “não comam”!!
5.
Quando voltou para casa, no final daquele dia,
junto com seu esposo Adão, aí pelas 18 h, ainda havia sol alto, pois era verão.
Quando iam chegando perto local onde se encontrava plantada a Árvore, Eva
diminuiu o passo ficando um pouquino para trás e comentou para seu companheiro:
ü Amor, sabia que
de todo esse tempo que estou morando aqui, somente hoje cedo quando ia passando
por aqui para trazer seu chá de ervas é que notei como esta árvore é bonita e
agradável e seus frutos têm cara de suculentos, gostosos! Chega dá gosto na
boca, não acha?
6.
Não é que tinha mesmo, pensou Adão que agora,
induzido por Eva começava ver o que antes não via: A beleza da árvore do Bem e
do Mal e como realmente os seus frutos eram desejosos. Incrível! Antes ele não
havia percebido mesmo passando por ali várias vezes por dia. Que coisa não?
7.
Rapidamente Adão refez seu pensamento,
esfregou os olhos, repreendeu aquela nova sensação, olhou disfarçadamente para
os lados para ter certeza que ninguém estava os observava (mas havia) e pegou
pelo braço de sua companheira e disse: Bora pra casa preparar o jantar.
Primeiro um banho na cachoeira dos fundos e blá, blá, blá, saíram correndo
iguais a duas crianças .... amanhã teremos mais um longo e abençoado dia pela
frente.
E, disse Adão com tom de alguma
preocupação que nem mesmo ele sabia o que era: te cuida!
8.
À noite, após a ceia que Eva preparara com
ervas, frutas e legumes, enquanto descansava, um filme começou a passar pela
mente de Adão, coisa que nunca havia acontecido antes. Apegou-se contemplando
aquela árvore e ouvindo a fala da sua esposa naquela tarde. Ponderou, tentou
não pensar, desviar a atenção, mas a voz de Deus soava em seus ouvidos
simultaneamente: “Não comam desta árvore; vocês irão morrer!”
O sono naquela noite foi mais difícil
de conciliar naquela noite. Rolava de um lado para o outro enquanto Eva roncava
a todo vapor. Tinha sonhos horríveis. Parecia que alguma força estava tentando
puxá-lo para leva-lo aquele lugar, mas tentava resistir de toda forma.
Levantou-se várias vezes e saiu da
cabana para beber água na bica lá do lado de fora. Aproveitava e olhava as
estrelas e permaneciam todas iguais e em seus lugares. Muitos animais pastavam
e dormiam por ali. De repente tomou um grande susto com o grunhido de uma
coruja e um bacurau passou raspando sua orelha direita. Voltou para a cama para
tentar dormir mais um pouco. Já madrugada. Sono pesado, mas conseguiu dormir.
Antes um pouco do amanhecer, durante o
sono rem, teve um pesadelo terrível que o fez acordar com um pulo da cama,
assustando Eva que abriu a um berreiro gritando: o que foi meu amor?! E
abraçando Adão disse: que susto me deu. Vamos voltar para a cama de novo. Dá
pra dormir mais um pouco; ainda está escurinho...
Mas o sono de Adão tinha ido
completamente embora.
Então, Adão disse: Não tenho mais
condições de dormir ... preciso lhe contar um sonho que tive.
9.
Então, sentando-se em um tronco de madeira no
canto da cabana, Adão chama Eva bem pra perto e bastante assustado,
enrolando-se em seu mando de fibra de sisal, faz o relato do seu sonho.
- De repente estava ei ali, bem em
frente àquela árvore proibida. Estava com os olhos cravados naqueles frutos
deliciosos; olhava de um lado para outro, para um lado e para outro, várias
vezes sem conseguir tirar os olhos dos benditos frutos. E a voz do Senhor era
intermitente nos meus ouvidos: “Não comam porque vocês morrerão”.
Então, comecei ouvir você me chamando
por várias vezes: Adão, amor, ei Adão e depois e procurar várias vezes, olhando
para todos os lados, vi você por entre os galhos da árvore, por detrás dela. E
você estava olhando para mim e saboreando com muito gosto uma daquelas frutas
proibidas, da Árvore do Bem e do Mal, e me dizia: Tenha medo não, homem de
Deus! Pega uma também. Não tá vendo que não aconteceu nada comigo. Olha bem e
vê que estou vivinha da silva, que não aconteceu nada comigo, que não morri
coisa nenhuma!
Aí você deu outra dentada saborosa
naquela fruta. Senti o gosto daquela mordida em minha boca e realmente percebi
que era deliciosa.
Pensei com meus botões: Talvez que o
Senhor estava apenas fazendo um teste conosco, tentando nos provar por quanto
tempo iríamos resistir sem comer daquele fruto. Um teste para nós mesmos. É,
deve ser isso.
Então, antes que pudesse dar conta e
repensar tudo aquilo, olhei para onde você estava e não mais a vi. Pensei: Deve
estar por detrás do tronco da árvore, já que era formidavelmente grosso e já me
apanhei com um fruto na mão e assim que o levei à boca, sem mesmo sentir o seu
sabor, você surgiu novamente por entre os galhos. Você estava incrivelmente
feia, desdentada, gorda, pelancuda, despenteada, peitos caídos; parecia que
havia envelhecido uns 200 anos.
Só que a visão foi tão, tão rápida que
antes mesmo que eu pudesse refletir, raciocinar, tentar compreender aquela
estranha visão, nós dois, ao mesmo tempo nos assustávamos terrivelmente um com
o outro e quando íamos dar aquele grito de desespero, no abrir das nossas
bocas, um abismo assustador ao extremo se abriu e nos arrastou violentamente
para o fundo sem que tivesse qualquer coisa me pudéssemos nos agarrar.
Um sentimento muito estranho se
apossou de mim, que nunca havia antes sentido e não sei ainda o que é nem como
descrevê-lo, mas me assustou muito ... então, foi quando acordei gritando e
tentando fugir.
Meus Deus ...o que será isso?!
Não há de ser nada meu querido, disse
Eva abraçando Adão e percebeu que estava bastante trêmulo, coração acelerado e
gélido. Vai lavar a cara lá na bica enquanto preparo um chá de folhas de ervas socado,
leite de cabra com uma boa coalhada e
algumas espigas de milho para começar um novo dia de trabalho no Paraíso que
onde o Senhor nos colocou para cuidarmos.
10. Disse Eva,
tentando consolar o marido baqueado emocionalmente por aquele “(*) pesadelo”
terrível:
Vamos fazer o seguinte meu amor. Hoje, no final da tarde, quando o Senhor vier
falar conosco, como faz todos os dias, a gente conta tudo isso para Ele e vamos
saber do que tudo isso significa. Deus sabe todas as coisas, não é mesmo? Aí
você aproveita e pergunta sobre esse tal sentimento estranho que teve e não
sabe o que é.
- É ....
- Pode ser, disse
Adão. Vamos esperar então até à tarde. Creio que esse dia vai ser muito longo!
11. Adão mal acabara
de engolir aquele delicioso manjar matinal preparado por Eva, sua esposa e após
dar um beijinho de despedida, sai para dar continuidade ao trabalho em que parara
ontem, do outro lado do lago das Águias, ao pé da montanha do Carvalho, nomes
que já haviam dado a esses monumentos geográfico. Eva ficou em sua cabana dando
aquela geral básica rotineira para depois acompanhar seu esposo nas atividades
que o Senhor lhes tinha atribuídos. Todos os dias, salvas poucas exceções, as
coisas acontecem desta forma. Eva vai e fica ali com Adão, ajudando aqui,
olhando ali, brincando com algumas flores nos cabelos, dando um mergulho no
lago ou correndo atrás de alguns animais que pastam por perto, como borboletas,
coelhos, corsas, girafas, leões, etc. E, com tanta vitalidade e jovialidade, Eva
joga muita alegria em todo aquele cenário.
É tudo o que Adão precisa para completar a felicidade do seu dia; sua
esposa por perto. E ela permanece por ali até o horário em que ela volta para
casa para preparar o almoço. Normalmente uns quarenta minutos a uma hora após
sua volta para casa, Adão também vem para almoçar.
Mas o dia de hoje
fugiu completamente à rotina. Eva preparou o lanche de sempre para o seu
companheiro, saiu de sua casa, mas não chegou ao seu destino.
12. Aquele dia amanhecera
muito atípico. Adão e Eva acordaram com um forte sacolejo. Foi uma pancada da
alma aquele pesadelo bobo de Adão. Enquanto ali no Paraíso, jamais haviam
presenciado quaisquer adversidades ou sentimentos que não fossem de completa
segurança, paz e bem-estar. Eva também estava sentindo algo estranho, talvez,
fosse semelhante àquilo que Adão disse ter sentido durante o seu sonho, ou
melhor, pesadelo brutal. Pensou com seus botões ou melhor com seus cachos, já
que ainda não tinha botões, ponderou e enfim considerou que as coisas deveriam
ser mesmo assim, já que tudo o que acontecia com eles era muita novidade. Ah! Deixa
prá lá! Bora com a vida ver meu marido! E, apanhando sua trouxinha com o lanche
dele, partiu. Mas, normal, não estava. Talvez não seja necessariamente comigo
que haja algo estranho, mas com o ambiente por aqui. É, deve ser, cogitou Eva.
13. E lá vai nossa
mãezona Eva, a mãe de todas as gentes. Pensa numa mãe linda, elegante, atual,
resolvida com tudo! Toma o rumo da montanha do Carvalho, onde Adão está fazendo
suas tarefas diárias. Aquele trajeto era demais especial para Eva. Normalmente
passava por ali ainda nas primeiras horas da manhã; o orvalho molhava as
plantas rasteiras e gotejava com particular beleza, às vezes molhando sua
cabeleira e fazendo barulho ao caírem sobre as folhas secas à beira do caminho.
Mas aquele dia as coisas não estavam tão belas. Decididamente havia alguma
coisa diferente no ar. Mas Eva seguiu aquele quase mágico caminho. De repente,
nossa mãe, mais uma vez, se depara com o olhar cravado para um monumento
inusitado: A Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. E hoje ela está se
mostrando excessivamente atraente e desejosa. Eva olha, observa os detalhes
daqueles frutos coloridos e de formatos perfeitos e de aspectos deliciosos,
desejosos. Antes não eram assim. Mas Deus disse: “Não comam desses frutos para
não morrerem”. Lembrou mais uma vez da voz do Senhor e, fazendo um certo
esforço conseguiu desviar o olhar para retomar seu caminho, mas sua mente
continuava vendo aquela maravilha proibida.
Assim que se vira
para ir embora ouve alguém lhe chamando lá paro lado da árvore, com voz
bastante suave:
- Eva, Eeeva...
Eva olha para
todos os lados, procurando encontrar quem a chamara, mas não encontra ninguém e
acha estrando porque, por aquelas bandas as únicas vozes que ouvira até então
era a voz do Senhor Deus e a do seu companheiro Adão. Mas esta voz,
decididamente não era nem de Deus e nem de Adão. A voz de Deus é simplesmente magnífica,
suave, esplendorosa, estrondosa no sentido do volume de plenitude que ela
alcançava. Quando Eva ouvia Deus falando, ainda de longe, gerava um sentimento
de paz, segurança, felicidade quase inexplicáveis. A voz do Senhor era
inconfundível. Dele, não era. Por outro lado, a voz de Adão apesar de macia era
ao mesmo tempo grave, determinada, amorosa, também inconfundível. Essa voz
decididamente não era nem a do Senhor e nem a voz de Adão, ponderou Eva! Uau,
mas de quem seria então?
Então Eva colocou
as coisas que trazia no chão, mansa e cuidadosamente, sem tirar os olhos lá
para o lado da árvore, de onde a voz tinha vindo. Então, assim que fixa mais
atentamente seu olhar bem na base do tronco da árvore, percebe uma linda figura
de um animal lindo que Eva conhecia muito: uma serpente, exageradamente
sedutora, elegante, simpática e apresentava um aspecto que parecia não lhe ser
comum. Eva só são conseguia identificar o que era. E ali estava aquela cena:
Eva, a serpente, árvore e ...
14. Então a serpente
sedutora chama Eva para perto e, de repente Eva já está ali, bem debaixo
daquela frondosa e imensa árvore, cujos frutos suculentos tratavam de prover
uma decoração à parte, quase tocando o chão, pareciam ainda mais encantadores.
A vontade era dar logo uma boa mordida para saber o se o seu sabor era
compatível com a sua aparência. E assim que pensou nisso, a serpente parecia
que lhe adivinhava os pensamentos e desejos e logo lhe lança um desafio e
provoca uma cobiça que jamais sentira: provar do fruto para ter o mesmo poder
que Deus tinha. Só isso e para tal estavam ali aquelas delícias, até porque,
Deus, bondoso que é, não iria colocar algo com aspecto tão atraente, desejoso e
com poder transformador de fazer as pessoas se parecerem com Ele, apenas para
enfeite e não para ser provado pelos seus filhos. Seria muito egoísmo da parte
de Deus. E tudo o que Deus fez era para o bem dos seus filhos. Eva ouvia tudo
isso meio sem entender bem o que estava acontecendo, como se aquele momento
fosse como um sonho, outra dimensão da existência, mas foi assim que ela
entendeu a bondade de Deus do ponto de vista da Serpente. Não foi bem assim que
Deus disse. Leia direito o texto, Eva. Preste atenção na pontuação das palavras
que o Senhor falou.
- É, pensou Eva, é possível que seja assim. Por que razão a
serpente, esse animalzinho tão meigo teria motivos para não dizer a verdade?
15. Adão aparece
nesse exato momento. Aí entendeu por que sua esposa Eva não havia chegado onde
estava fazendo suas atividades. Mas agora isso não mais importa. Ainda bem de
longe Adão notou que Eva está conversando com alguém bem debaixo da Árvore
proibida. Não se ateve muito ao fato nem parou para avaliar ou tentar entender
o que estava acontecendo, simplesmente caminhou em sua direção. Foi chegando,
meio sem compreender o que via mas foi chegando e quando estava a alguns poucos metros de Eva,
ela ouviu seus passos que chegavam e virando-se para vê-lo e abraça-lo, trazia
em suas mãos um belo fruto da Árvore proibida, e ante que falassem qualquer
coisa, deu uma gostosa dentada e, chegando bem próximo do rosto de Adão, de forma
que podia sentir o seu hálito, colocou aquele fruto em sua boca, que o comeu sem
qualquer questionamento. Então Adão e Eva se abraçaram longamente. Adão
perguntou, meio atordoado:
- Com quem estava conversando, parece que
ouvi vozes quando estava chegando?
- Estava falando com um Serpente
encantadora.
E vira-se para o
local onde ela deveria estar, para apresentar a Adão, mas, para sua surpresa,
não a encontrou. Onde estaria ela? Chega mais perto, olhando por trás da Árvore
e por entre seus ramos e arbustos e, nada. Adão, meio duvidoso e coçando a
cabeça pergunta mansamente:
- Tem certeza que a Serpente “conversou”
com você, ou seja, que ela realmente falou alguma coisa?
- Claro, meu amor, respondeu Eva, claramente.
- E o que conversavam, perguntou Adão.
Então Eva,
chegando mais perto da Árvore, afastando seus ramos de uma lado para o outro,
deu um grito de espanto e um grande salto para trás gritando:
- Meu Deus, que animal estranho e
horrível é este?
Então Adão correu
em seu socorro e abraçando Eva para não cair devido ao susto e olha para a
direção que ela apontava e lá estava, aquele animal asqueroso, aspecto jamais
visto no Paraíso, enrolado no galho da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.
Meu Deus o que é isso, pensou Adão.
Entretanto, num
repente Adão percebeu que estava tendo aquele sentimento que não conseguia
explicar que sentiu em seu sonho. Era algo assustador e estava ali, agora
sentindo essas coisas estranhas que nunca tinha acontecido com ele durante
todos aqueles anos ali no Paraíso. Passou à frente de Eva para ver o animal
mais de perto, mas recuou diante do aspecto terrível e monstruoso que aquele
cenário apresentava. Deus não havia falado que existia aquele tipo de animal
por ali e que deveriam cuidar dele. Adão pensou, ponderou, tentou entender, mas
nada. Apenas aquela sensação estranha.
Então, virando-se
para olhar e acalmar sua esposa deparou-se com uma imagem extremamente
assustadora: Eva estava horrível .... Meu Deus, pensou Adão. O que está
acontecendo conosco?
Então, lembrou
Adão do seu sonho e antes que pudesse comentar com Eva qualquer coisa, ambos se
envergonharam ou do outro por verem que estavam nus.
Saíram correndo
para buscarem um esconderijo, mas antes que conseguissem chegar se afastar muito
ouviram uma voz bem conhecida. Mas a voz que antes desejada e que trazia paz,
alegria, segurança agora, os assusta e imprime sentimentos jamais percebidos em
suas almas.
Então o Senhor
Deus chega e os encontra fugindo da Sua presença. Eles até que tentaram
explicar, mas nunca mais encontram aquele lugar de segurança e conforto que
haviam construído no Éden.
Já não há mais Éden,
só o abismo ficou e por muitos milênios!
Pastor Romildo P.
Módolo
17/04/2020
Sobre
o Autor
Pr. Romildo é graduado Teologia e em
Engenharia Elétrica pela UFES e pós-graduado em Psicanálise Clínica e Terapia
Sistêmica Familiar. Atualmente é o Pastor Sênior da Igreja Evangélica
Assembleia de Deus Esperança – IADE, Colina de Laranjeiras, Serra/ES. WS:
27-99822-0418